Nas andanças pelo Brasil, percebo a insatisfação do povo com os políticos. Esse sintoma não é bom sinal, mas faz tempo que a população anda desgostosa com a atuação da maioria dos agentes políticos, sejam eles do executivo ou do legislativo. Não sou de demonizar a política, até porque é por ela que praticamente tudo passa. Creio que somente por meio do diálogo e da interação direta com a sociedade é que a classe política pode retomar a confiança, a credibilidade e o respeito ou parte deles.
Mas os sinais ainda estão bem aquém daquilo que se espera. Isso porque os arranjos, os conchavos e a disputa fratricida pelo poder permanecem vigentes em um Brasil que continua exalando ódio, preconceito, intolerância, impaciência, conservadorismo e soberba, principalmente por parte dos mais abastados. A elite financeira mantém ou tenta manter o status de superioridade, força e poder sobre os menos favorecidos, colocando-os no mesmo patamar de subserviência de séculos passados.
E os políticos têm culpa nesse processo, já que não rompem com essa dinâmica cruel que somente corta na carne das classes mais baixas. Tais procedimentos só fazem aumentar a desigualdade no país e geram mais pobreza e desgraça. Os privilégios da classe política e também do Judiciário são uma afronta ao trabalhador mais humilde, que luta mensalmente para sustentar a sua família. Por que não cortar na carne dos políticos e das corporações da justiça também? Por que eles não dão o exemplo? Custa muito reduzir privilégios e mostrar, ao menos, boa vontade? São respostas que somente os citados podem dar. E não sou contra quem ganha bem e possui uma vida satisfatória. Pelo contrário, respeito a conquista e o esforço das pessoas. Porém, quem está na ponta inferior da pirâmide social merece viver em condições mais dignas.
O investimento em educação, saúde e segurança é fundamental, e qualquer governo deve tê-lo como prioridade. Em recente entrevista ao Valor, o ministro da Educação, Vélez Rodríguez, defendeu o ensino técnico, um dos pilares da Reforma do Ensino Médio, e declarou que a ideia de universidade para todos não existe. Por que não, ministro? Todo o jovem tem o direito de ingressar no ensino superior. O mesmo vale para o ensino técnico. É uma questão de escolha e, principalmente, de oportunidade. A elite intelectual pode, sim, ser integrada por filhos de trabalhadores, pobres, negros, comunidade LGBT, índios, seja lá por quem desejar. A diversidade, marca do país, deve ser incentivada e não tolhida por qualquer governante. Aliás, o ensino público brasileiro, em todos os níveis, precisa de investimentos e não de cortes orçamentários, com infraestrutura adequada e docentes bem formados e bem remunerados.
O Brasil democrático passa pelo pluralismo de ideias e respeito às diferenças. A classe política precisa entender isso e fazer o debate salutar e propositivo. Retroceder em pleno século 21 é algo inacreditável. O país necessita avançar com políticas de estado e não de governo.
De acordo com a psicóloga Rosely Sayão, que lançou recentemente o livro 'Educação sem blá-blá-blá', "conflito não é convencer o outro da minha visão, mas também entender a postura, visão do outro". Ela destaca: "Educar é apresentar a vida e não dizer como viver". Uma boa reflexão.